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Paulo Alberto Nussenzveig, Pró-Reitor de Pesquisa e Inovação, Gestão 2022/2026 – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

AUSPIN: Pró-reitor de Pesquisa e Inovação destaca as potencialidades do ecossistema de inovação da USP

por AUSPIN

Neste ano, a Universidade de São Paulo completou 90 anos de existência. Em 2025, a comemoração será da Agência USP de Inovação (AUSPIN), que completará 20 anos. A parceria entre a USP e a AUSPIN é responsável pelo desenvolvimento de oportunidades que estimulam a inovação e o empreendedorismo e permitem a ampliação do impacto e dos benefícios guiados pela pesquisa desenvolvida na USP em prol da sociedade.

Para comentar sobre a importância dessa relação, a AUSPIN entrevistou Paulo Alberto Nussenzveig, Pró-reitor de Pesquisa e Inovação da USP; bacharel e mestre em Física pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e doutor em Physique Quantique pela Université Pierre et Marie Curie (Paris VI).

Nos últimos anos, o ensino, pesquisa e extensão tem sido um lema da universidade pública, principalmente na USP. Nessa gestão, a inovação tecnológica é uma das principais pautas. Nesse cenário, como a pesquisa é alinhada com a inovação?

Primeiro, direi que a gente não traz simplesmente a inovação tecnológica. Temos insistido no conceito mais abrangente de inovação. Essa é uma discussão bem interessante que tive com o Pró-reitor adjunto de Inovação, Raul Gonzalez Lima, em 2022, quando estávamos no início da caminhada. Ele é alguém que empreendeu e inovou a vida inteira, desde que entrou na universidade, com 18 anos e eu sou físico. Trabalho e tenho uma educação na pesquisa básica e no valor do conhecimento obtido pela curiosidade, que é a única maneira de realmente obter conhecimento original disruptivo.

Nessa conversa, estávamos discutindo se a inovação é uma missão da universidade ou não. E o que foi interessante é que, no início, o Raul dizia que não e eu dizia que era. Nós discutimos durante uma, duas horas, e examinamos a origem das missões, história e a instituição da universidade.

Se pararmos para pensar, essa história está muito conectada com uma ideia quase darwiniana de sobrevivência, de que o importante é se manter vivo e garantir descendência. Então, a instituição começa, no fundo, com a identificação de conhecimento e a ideia de que é preciso transmitir esse conhecimento dos sábios para os seus discípulos. Então, você começa com o primeiro pilar, que chamamos de ensino e que, no fundo, é o pilar de abertura de caminho para a aprendizagem. Rapidamente, percebemos que não é suficiente, nesse processo, se contentar apenas com aquilo que já foi produzido no passado e estudar o conhecimento gerado por outros anteriormente. Você precisa gerar esse conhecimento.

Então, o segundo pilar, pesquisa. Com o crescimento das sociedades, o crescimento das aglomerações urbanas, etc., começamos a perceber a importância de que o saber não esteja restrito a um conjunto pequeno de pessoas. Assim, aparece a extensão. Desde a segunda metade do século passado, com a evolução da economia, o conhecimento tornou-se um recurso valioso. É um bem imaterial que traz prosperidade às sociedades.

Gerar conhecimento e retorná-lo à sociedade em forma de produtos e processos que a beneficiem e tragam melhorias nas condições de vida das pessoas, se torna cada vez mais crucial. Dentro das sociedades, quais são as instituições que se dedicam à geração, promoção e disseminação de conhecimento? As universidades. O processo de inovação na acepção da universidade é um processo que se inicia num conjunto de ideias e resulta em impacto benéfico na sociedade, seja esse impacto econômico, ambiental, social, tecnológico, enfim.

Considerando esses fatores positivos, como é lidar com a pesquisa? Você tem algum mecanismo ou formas de incentivar novos pesquisadores? Essa ideia de aproximar a pesquisa do mercado e das necessidades humanas é enfatizada?

Sim e não, pois essa é uma questão com condições de contorno complicadas de satisfazer. Ao mesmo tempo que precisamos aproximar a universidade da sociedade e trabalhar para beneficiá-la, não podemos abrir mão de uma prerrogativa das universidades: a autonomia. Essa característica permite que as universidades sejam um local que gera conhecimento.

O principal motor das inovações humanas e revoluções científicas é a curiosidade. Por isso, precisamos preservar a geração de conhecimento “inútil” dentro da universidade, porque algumas descobertas são inúteis no momento em que são geradas, mas, muitas vezes, aquele conhecimento se torna extremamente útil. O que estamos levando às unidades é a importância do engajamento da universidade frente às demandas da sociedade e a abordagem dos principais desafios que temos hoje no planeta. Só iremos resolver esses desafios com ciência, com tecnologia, com inovação.

No fundo, o convencimento não é que todo mundo precisa dar utilidade à sua pesquisa. Não é isso que estamos dizendo. Pelo contrário, somos defensores incondicionais da geração de conhecimento inútil. Porém, precisamos disseminar na universidade uma cultura de compreensão da inovação. Para isso, foi criada uma série de eventos de inovação no campus. Em setembro, aconteceu o primeiro encontro, em Ribeirão Preto e, em outubro, foi realizado um evento sobre o assunto em São Carlos.

A comunidade precisa entender a importância de uma permeabilidade maior das fronteiras da universidade, de modo a ter troca. A maneira mais eficiente de se fazer inovação é através da cocriação. Temos inúmeros exemplos de coisas que dão certo por conta desse processo desde o início e outras que deram errado porque se procurou gerar um conhecimento pronto, levar esse conhecimento pronto para fora, para comercializar, etc. Isso não deu certo. Por quê? Porque o setor externo não tinha o conhecimento, não tinha o entendimento da importância e, por “n” motivos, recusou aquilo que foi oferecido. Na cocriação, quem vai usar o conhecimento, tem noção de todas as etapas do processo.

Como você vê esse trabalho conjunto e essa amplitude? Os alunos têm mostrado mais interesse? As pessoas têm tido mais acesso à informações referentes ao processo de inovação?

Temos incrementado a oferta de disciplinas voltadas ao empreendedorismo, aspecto que acho extremamente salutar. Uma fração grande de materiais sobre o assunto estão sendo disponibilizados pelo Núcleo de Empreendedorismo da USP (NEU), conduzido por alunos. É uma iniciativa que conta com apoio de docentes, mas quem toca o NEU para valer são alunos e ex-alunos da universidade com uma seriedade impressionante. Se não me engano, o NEU já ofereceu mais de 100 disciplinas e, através de cursos oferecidos na plataforma Coursera, já atingiu acho que mais de 300 mil pessoas.

Nós fazemos parte de um esforço da OCDE (Organização de Comércio e Desenvolvimento Econômico) que se chama EECOLE. Esse grupo internacional se dedica a avaliar e estudar a atuação do setor de ensino superior na promoção da inovação e do empreendedorismo mundo afora, fazendo estudos de casos e avaliações em diferentes locais. Nossa relação com a OCDE tem sido incrementada ao longo do tempo.

O professor Raul foi para Cleveland (EUA) como perito para avaliar o ecossistema local de inovação e empreendedorismo. Nós teremos uma avaliação desse tipo em São Paulo para fazer avaliação e diagnóstico do que temos de bom e onde ainda falhamos. Esse grupo da OCDE recomenda que numa instituição de ensino superior relevante, hoje, pelo menos 50% dos alunos tenham cursos de empreendedorismo.

Ainda estamos longe disso na USP, mas tem muita coisa acontecendo, muita coisa sendo oferecida para alunos em nível de graduação. Por exemplo, tive contato com o Empreende Sim!, mais uma organização de estudantes, conectada com uma disciplina oferecida a estudantes de graduação na FEA (Faculdade de Administração, Economia e Contabilidade).

Como você enxerga o ecossistema de inovação da USP? Ainda estamos em uma fase introdutória ou já estamos mais avançados?

É difícil usar termos como “introdutório” ou “avançado”. Em São Paulo, juntamente com o IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), temos a maior e mais tradicional incubadora de empresas do país, a incubadora USP/Ipen, gerenciada pelo Cietec (Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia).

Também temos o sistema InovaUSP, criado recentemente e que atua com bastante vigor nos diferentes campi da Universidade. Ainda precisa de melhorias e de uma gestão mais profissional, desvinculada da atribuição da universidade. Precisamos ser capazes de explorar o Marco Legal de Inovação, processo que está em curso. Temos uma governança de inovação que era tímida e isso motivou a incorporação da inovação à Pró-reitoria, o que culminou na Pró-reitoria de Pesquisa e Inovação, algo que traz a pauta da inovação diretamente para dentro do conselho universitário, onde ela estava ausente.


Prédio do Inova USP – Foto: Fábio Durand/USP Imagens

Mesmo com tudo isso, um docente temporário da Poli fez um estudo, usando a base de dados CrunchBase, de qual fração do capital de risco investido em startups no Brasil foi capturada por egressos da USP. Entre 2010 e 2020, empresas que foram fundadas por pelo menos uma pessoa egressa da USP, captaram 43% de todo o capital de risco do Brasil. Então, dizer que a gente está num estágio inicial, não é uma afirmação adequada.

Agora, isso é quase pura inércia, porque a Universidade é muito boa, é muito grande. Os nossos alunos são muito bem selecionados, muito bem formados e, com isso, eles mostram esse tipo de resultado. A gente está, ao longo dos últimos anos, estruturando a governança da inovação para impulsionar esse processo muito mais.

Qual é a diferença entre o Inova e a AUSPIN?

Acho o Inova um centro de inovação para a realização de atividades de inovação, interação com o setor externo, promoção de hackathons e oficinas com impressoras 3D, espaço de encontros, enfim. A AUSPIN é o nosso Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), responsável por gerenciar a propriedade intelectual da universidade e os parques tecnológicos.

Estamos criando o Instituto Internacional de Inovação (I3), mais uma ponta disso, com o objetivo de trazer algumas corporações para dentro do espaço de cocriação, que serão âncoras desse espaço, assim como laboratórios, setor governamental e setor de capital de risco, para ter um grande espaço de inovação aberta em cocriação e gerar, de fato, o que a gente chama de deep tech innovation. Queremos gerar instrumentos, criar coisas que exigem conhecimento especializado, infraestrutura, equipamentos, etc., e que só vão acontecer se trouxermos os principais atores para um espaço comum.

Existem vários exemplos disso, mundo afora. No Brasil, não temos nenhum exemplo realmente desse porte. Isso tudo se insere num conceito ainda mais amplo, em que a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação está tratando da criação de um Distrito de Inovação. O distrito, no fundo, deve ser toda a universidade e o seu entorno, porque é uma integração da atividade criativa, de apropriação de conhecimento, de geração de valor para a sociedade, integrada no tecido urbano. Esse projeto está sendo desenvolvido em parceria próxima com a USP, IPEN, IPT e o Instituto Butantan.

Com relação a esse distrito, imaginemos que o governo municipal ou estadual invista recursos e capital humano, enquanto a universidade investe seu capital intelectual. O restante, viria do governo federal. A iniciativa privada ainda estaria distante?

De novo, cocriação. Se não fizermos isso com o comprometimento dos diferentes setores, não adianta. O projeto do Distrito, no entorno da USP, é uma articulação com os governos estadual e municipal. O governo federal não está diretamente envolvido.

Há uma articulação, obviamente, com empresas. Tivemos uma reunião, a primeira do Conselho Fundacional do Instituto Internacional de Inovação, e pré-aprovamos a primeira empresa internacional que vai se instalar nesse local e tem várias outras interessadas. Isso terá um custo para as empresas, mas o financiamento dessas atividades, desses empreendimentos, precisa ter níveis de compartilhamento.

Um exemplo é o MaRS Discovery District, centro de inovação em Toronto (Canadá). Quando ele foi criado, 100% do investimento era do governo da província de Ontário. Ao longo dos anos, o centro foi se estabelecendo e, hoje em dia, o investimento do governo está na faixa de 40%. Então, 60% do que é mantido ali é capital privado, mas ainda tem 40% do governo, que não pode sair de cena.

O principal investimento inicial deve vir do setor público, mas precisa haver um comprometimento do setor privado. Se isso não acontece desde o princípio, então não foi feita cocriação. Precisamos encontrar empresas que estejam diretamente interessadas em participar e ter espaço no Instituto de Inovação. Elas precisam entender a importância de fazer esse investimento. Isso já está acontecendo, porque existe a percepção de que, mesmo que nossa economia tenha seus problemas específicos, não tem visão de futuro que não passe por um incremento grande na capacidade de inovação do Brasil.

Nós falamos de inovação e a USP vem inovando há 90 anos. Visando os 100 anos, como podemos projetar o futuro da Universidade?

É muito difícil fazer previsões, especialmente sobre o futuro. Só o que eu posso dizer é que espero que a USP esteja muito melhor do que ela está hoje, porque é nosso papel fazer com que ela esteja sempre melhor a cada período que avança. Há muito sendo estruturado hoje e que tenho certeza que daqui a 10 anos vai estar rendendo vários frutos.

A administração e a reitoria estão promovendo inúmeras atividades, existe uma visão de um plano de atuação e o impacto disso não é medido pelo que acontece agora. Daqui a 10 anos, veremos muitos dos frutos daquilo que está sendo feito hoje, mas não todos. Eu falei do MaRS, por exemplo. A província de Ontário teve a visão de que era necessário apoiar, acelerar a inovação e estruturou esse processo, um plano para 20 anos. 20 anos depois, Toronto se tornou uma das principais cidades do planeta em inovação. Então temos que ter visão, muita paciência, muita resiliência e saber que leva tempo.

Espero que a universidade tenha abraçado integralmente o Marco Legal da Inovação, um desafio imenso no país e que é subaproveitado em geral, na USP em especial. A Unicamp e principalmente a UFMG estão muito à nossa frente nisso e estamos tentando implementar os modelos que deram certo nessas universidades.

Espero também ver uma Agência USP de Inovação que, com alguns anos após essas transformações, esteja rodando ultra azeitada e impulsionando muito mais inovação na USP. Espero ver o Instituto Internacional de Inovação operando a pleno vapor, trazendo os frutos da cocriação e de um espaço de inovação aberta, inédito nas universidades brasileiras e ver os centros criados pelo reitor, interdisciplinares, com grandes temas, colocando a USP na vanguarda, na linha de frente.

Por Julia Martins(*) e Ronaldo Nina
(*) Estagiária sob supervisão de Ronaldo Nina

AUSPIN

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