Advogado de formação, com 48 anos e uma fortuna estimada pela Forbes em US$ 9 bilhões (R$ 42,5 bilhões). Discreto, amante de chá verde e colecionador de arte renascentista. Essas são algumas características de Daniel Kretinsky, o bilionário tcheco que tirou Jean-Charles Nouri do comando da varejista francesa Casino.
Nouri ficou famoso no Brasil há cerca de dez anos, quando travou e venceu uma batalha com Abilio Diniz pelo controle do Pão de Açúcar (PCAR3). Nocauteado por dívidas de mais de 6 bilhões de euros (R$ 31,2 bilhões), o francês cedeu na semana que passou o lugar ao tcheco.
Na sexta-feira (28), a Casino informou que a EP Global Commerce, a Fimalac e a Attestor — o consórcio liderado por Kretinsky que também inclui o financista bilionário Marc Ladreit de Lacharriere — e alguns credores que incluem bancos franceses concordaram em participar da operação de resgate da rede francesa.
Segundo a Casino, um acordo vinculativo pode ser fechado em setembro, com o objetivo de concluir a reestruturação durante o primeiro trimestre de 2024.
Kretinsky construiu um império de combustíveis fósseis comprando ativos a preços baixos vendidos por empresas de serviços públicos na Europa que buscavam descarbonizar a operação. O negócio do bilionário tcheco vale mais de US$ 17 bilhões (R$ 80,3 bilhões).
Atualmente, ele controla o grupo EPH, que é um dos maiores conglomerados de energia da Europa Central e que concentra um dos maiores portfólios de negócios ligados a combustíveis fósseis da Europa.
Por conta disso, a EPH se transformou em um dos maiores poluidores de carbono do Velho Continente, o segundo maior minerador de carvão da Alemanha e um importante transportador de gás russo para a região.
A aposta de Kretinsky é de que a aclamada transição verde na Europa será um processo lento e confuso e, por isso, a queima de carvão e o uso do gás vão prevalecer por mais tempo do que o projetado.
Ao que parece, a aposta vem dando certo. Em 2021, a EPH teve receita de 18,9 bilhões de euros (R$ 98,5 bilhões) — um resultado 10 bilhões de euros maior do que o obtido no ano anterior, enquanto o lucro operacional somou 1,5 bilhão de euros (R$ 7,8 bilhões). A EPH é uma empresa de capital fechado.
Kretinsky não guardou todos os ovos na mesma cesta, passando os últimos anos comprando ativos na Europa Ocidental.
O bilionário adquiriu participações significativas em cadeias de supermercados no Reino Unido, França e Alemanha. Também abocanhou fatias em serviços postais no Reino Unido e na Holanda.
De olho em uma tendência na qual a mídia tcheca começou a ser comprada por oligarcas em busca de influência política, Kretinsky tentou replicar o movimento na França — só que os jornalistas do Le Monde bloquearam a tentativa do bilionário de assegurar o controle do jornal francês.
Mas não é só de ativos de emissão suja que vive o bilionário tcheco.
Em uma conversa com o jornal francês Libération, em 2019, Kretinsky contou que colecionava arte renascentista, que admira o financista JP Morgan e que não gostava de falar com jornalistas.
“Quando nos encontramos, ele estava bebendo chá verde”, disse o repórter Jerome Lefilliatre, que entrevistou o tcheco na ocasião.
Parabéns!